Se Joaquim Nabuco já sabia que o maior problema a ser resolvido depois da escravidão era o seu legado, por que nós ainda não o erradicamos?
Hoje, dia 14 de Maio de 2014, completa-se 126 anos que o negro, também
na lei, é igual a todos. Nesse mais de século, brancos e negros viveram lado a
lado em todos os aspectos. Desde o econômico ao acadêmico, uma igualdade de fazer
qualquer Robespierre invejar-se. Quase não dá pra distinguir arianos e
afrodescendentes. Bom, sabemos que não é bem assim.
No dia 13 de Maio de 1888, Princesa Isabel abolia a escravidão por meio
da Lei Áurea, o que garantia - em tese - a liberdade dos escravos. E como
Joaquim Nabuco disse em seu livro,
A Escravidão, o problema maior seria acabar com o legado da escravatura no
Brasil. Bingo.
Nos anos seguintes, viu-se a profecia de Nabuco se concretizando:
milhares de ex-escravos sem casa, sem comida, sem emprego e sem cidadania.
Nenhum programa de realocação social foi posto em prática, e os reflexos são
claros aos que querem enxergar.
Agora dizemos que Monteiro Lobato era um malvado racista,
que Hitler estava errado, já que todos somos iguais, e até ironizamos o racismo
tirando fotos com bananas. Enquanto isso, o negro tem maior dificuldade em
arrumar emprego. Enquanto isso, o negro recebe um menor salário. Enquanto isso,
o negro está marginalizado. E você tirando foto com banana.
Obviamente que os tempos são incomparáveis. Hoje a desigualdade é menor
que no século anterior. Mas não se empolguem, porque ela ainda existe: e é
gritante.
Por não aceitarmos os fatos que não destruímos o legado da escravidão.
Fechamos os olhos e dizemos que está tudo bem, fingindo que cuspe é chuva.
Venho lhe falar que não é. Gritamos uma igualdade falsa, que existe a quem não
é "menos igual". Pergunte a um afrodescendente se ele já foi discriminado por sua cor de pele. Se negativo, pode dormir em paz.
Se o Estado é quem tenta integrar o negro, a culpa é nossa. Do preconceito que não matamos. Um dia, espero, seremos todos iguais de fato. É só
entender que a luta não acabou, e que podemos dar o apito final. Que Nabuco se orgulhe, mesmo que tardiamente, da borracha que passaremos na maior mancha da nossa história.
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