segunda-feira, 5 de maio de 2014

Da Carta Política, Nicolau Maquiavel

A Mesa do primeiro post é a da Política, meu tema preferido. A Carta é o coringa florentino: Niccolò dei Machiavelli.

Nicolau Maquiavel (1469) nasceu em Florença, Itália. Com sólida formação humanista, foi diplomata, filósofo, dramaturgo e poeta. Cresceu lendo Tito Lívio, Tucídides, Plutarco, Virgílio e seus contemporâneos Dante e Bocaccio. Viu os Médici dominarem Florença até 1494, ascendeu na diplomacia e fora privado de seu cargo quando o Cardeal João de Médici entrou na cidade florentina e reformou a administração. Posto como conspirador, foi preso e torturado. Reconhecida sua inocência, foi para o Albergaccio, onde escreveu seu "opúsculo". Onde escreveu O Príncipe¹.


Depois de 500 anos, ainda há divergências quanto a interpretação da obra, principalmente ao traçar seus prováveis objetivos. O fim de presentear Lourenço de Médici é dos mais aceitos, porém, de menor relevância. O que levaremos aqui em conta é a intenção de fazer um Speculum principis, prática muito comum na época que consistia em escrever um "espelho" para príncipes, verdadeiros manuais.

Muitos se preocuparam em definir como o mundo deveria ser, o que sempre passou longe da realidade. Maquiavel demonstra sua engenhosidade ao "escrever coisa útil a quem se interesse"², perseguindo "a verdade efetiva da coisa do que aquilo que se imaginou sobre ela". Assim, ao rastro do real, traçou métodos e posturas que colidiram com as tradições cristãs da época e revolucionaram a dialética política.

Citando diversas qualidades desejadas em todos os homens - principalmente nos príncipes -, Nicolau diz que "não se pode tê-las inteiramente, já que as condições humanas não o permitem". Também concluiu que entre ser temido e amado, é preferível ser os dois. Se não o pode, antes ser temido, pois o homem que ama também trai, já o que teme não o faz. 

A partir dessas constatações, estudiosos sintetizaram sua obra na frase "os fins justificam os meios", o que dá a impressão de que qualquer fim justifica qualquer meio, tese não desenvolvida pelo autor. Também surgiu o adjetivo "maquiavélico", mais pela frase geral e leviana do que pelo estudo de O Príncipe.

Usando o significado empregado em "maquiavélico", conclui-se que o maquiavelismo surgiu antes mesmo de Maquiavel, visto que o autor retrata em seu opúsculo a realidade anterior e contemporânea a ele: uma realidade, realmente, maquiavélica.

Apesar de conclusões divergentes, é inegável a importância de O Príncipe. Poucas foram as análises prévias tão meticulosas quanto a de Nicolau. Por mais que discordem de seu conteúdo, sua ideia faz-se necessária na sociedade. O ideal é longe demais para nos dar ao luxo de fingir que existe. Antes do utópico existe o real. E é neles que vivemos. Ave, Maquiavel.


¹PDF disponível e divulgado por ser domínio público
²Tradução literal retirada de MAQUIAVEL, N. Il Principe

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